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Confissões do #Infiltrado: O Mundo do Funk

Por History Channel Brasil em 23 de Agosto de 2017 às 16:43 HS
Confissões do #Infiltrado: O Mundo do Funk-0

Para investigar o universo do funk, me propus a uma tarefa inglória para alguém que nasceu ouvindo Chico Buarque e cresceu nas hordas do punk rock – virar funkeiro.

Despindo-me desses meus preconceitos musicais, típicos da adolescência mas ainda presentes na minha pessoa balzaquiana, mergulhei num mundo muito distinto de outro que já havia me infiltrado na primeira temporada da série, o do sertanejo.

O Funk Ostentação não é retrato da favela, mas espelho de nós mesmos – dos nossos sonhos mais mesquinhos e da nossa incorrigível mania de proibir a livre expressão.Fred Melo Paiva, O Infiltrado
Naquele, tudo soava artificial, feito sob medida para um mercado descerebrado, ávido por qualquer besteira. No funk, não – neste, por pior que pudesse me parecer o “batidão”, eu estava diante de um interessantíssimo retrato das comunidades pobres e reprimidas. O que mais me escandalizou neste episódio foi perceber como o potencial revolucionário do funk foi silenciado pela mão pesada do Estado e da Polícia. Proibiram o “Proibidão”, com sua poesia crua sobre a realidade dos morros.

Enquanto pateticamente eu tentava aprender os passos do funk num balé com Fernanda Abreu (vídeo), ou sacava a sua filosofia me tornando um adepto da #BuSeita de Mister Catra, a história desse ritmo se desenrolava diante dos meus olhos, cheia de ideias e ideais.

Por isso me revoltei ao ver toda a verdade do funk resumida hoje ao “Funk Ostentação”. E propus, com minha batida desajeitada, a volta a um passado de contestação. Mas o funk é uma coisa tão poderosa, que me peguei, dias depois das filmagens, perguntando a mim mesmo: e se esse negócio de ostentação for uma grande, uma enorme ironia? Como se todos os funkeiros dissessem assim: ok, não podemos cantar nossa realidade, cantaremos então os sonhos mais cretinos da sociedade que o asfalto apregoa como a ideal.

O Funk Ostentação não é retrato da favela, mas espelho de nós mesmos – dos nossos sonhos mais mesquinhos e da nossa incorrigível mania de proibir a livre expressão.